
A agenda de reestruturação dos negócios globais de Natura &Co avançou durante o ano nas duas unidades de negócio. Como a América Latina entregou resultados e contribuiu para a execução desse plano?
A América Latina é o ponto de origem e a principal fonte de resultados econômicos, sociais e ambientais de Natura &Co. Nos últimos anos, a empresa viveu uma jornada de transformação e aprendizados, centrada na simplificação de sua estrutura global e na recuperação de seus patamares de desempenho.
Em 2024, refletimos no âmbito do Comitê Executivo sobre o papel da Natura na América Latina nesse novo momento. Construímos aspirações para o ciclo estratégico vigente que se traduzem em duas palavras: regenerar e prosperar. Isso significa fazer um movimento de virada para modelos mais regenerativos – a próxima fronteira do desenvolvimento sustentável – e combiná-lo à criação de valor para toda nossa rede de negócios e relacionamentos.
A tudo isso se somou, ainda, um movimento de identidade e reconexão com a nossa Razão de Ser – o Bem Estar Bem –, denominado Somos Natura. Trata-se de valorizar nossa origem para criar o novo, um trabalho de resgate de nossa identidade, focado em entendermos como olhar para um futuro dinâmico e móvel sem abrir mão de nossos valores, construídos há décadas na Natura Cosméticos, que completou 55 anos e celebrou uma década como Empresa B em 2024.
Com o Somos Natura, reafirmamos as bases que sustentam nossa capacidade de inovar, para gerar ainda mais impacto positivo por meio da construção de um negócio regenerativo.
De que modo a estratégia de negócio busca considerar esses aspectos e mantê-los no centro das decisões, mesmo em um momento de desafios e mudanças?
A incorporação do conceito de regeneração à estratégia corporativa reafirma nosso compromisso com atividades que gerem impactos sociais, ambientais e econômicos positivos. Entendemos que a busca de modelos regenerativos diz muito sobre como termos um negócio que trabalha pelo futuro da humanidade, cuja essência está no uso de ativos da biodiversidade para levar beleza e bem-estar para o mundo.
Regeneração, para nós, é um processo dinâmico de restaurar a vida em indivíduos, sociedade, natureza e as relações entre eles. Isso tem relação direta com o modo como podemos acessar comunidades fornecedoras, pesquisar novos bioativos e construir parcerias, desenvolver produtos, posicionar nossas marcas e assegurar relacionamentos comerciais éticos, transparentes e duradouros.
"Construímos aspirações para o ciclo estratégico vigente que se traduzem em duas palavras: regenerar e prosperar"
A jornada omnicanal é uma das avenidas de crescimento anunciadas para a América Latina, aliando a Venda por Relações a outros canais, a fim de conquistar mais perfis de consumidor e ampliar a acessibilidade da compra. Quais os avanços durante o ano nessa frente e de que forma eles impactam as Consultoras de Beleza?
Para expandir a visão que está na origem da Natura, é fundamental marcar presença em diferentes razões e momentos de compra, integrando-se ao cotidiano dos clientes. Essa ambição transcende a mera transação comercial, demandando uma relevância cultural profunda nas diversas geografias onde atuamos e uma estratégia de negócios abrangente, com atuação em múltiplos lugares, categorias e marcas. Temos avançado continuamente em nossa jornada omnicanal, buscando digitalizar cada vez mais a Venda por Relações, ao mesmo tempo em que diversificamos a oferta para os clientes em múltiplos canais, convergindo para o desafio da omnicanalidade plena.
Durante o ano, inauguramos nossa loja virtual no Mercado Livre no Brasil e no Chile, renovamos nossa plataforma de e-commerce própria e demos continuidade ao plano de expansão do varejo, ultrapassando as mil lojas físicas Natura, entre próprias e franquias. Ao mesmo tempo, entramos com a Avon no varejo especializado brasileiro, com duas parcerias firmadas até o começo de 2025 que nos conectam com dezenas de milhares de clientes.
Todos esses movimentos têm por trás uma ideia simples: pessoas gostam de pessoas. Um serviço de excelência se fundamenta na intimidade, entendida como confiança, conhecimento e proximidade. Esses pilares são essenciais para a construção de relações longevas e saudáveis, em qualquer lugar do mundo e em todos os canais de interação com nossos clientes.
A omnicanalidade, portanto, é uma via para expandir nossa visão e levar nossos produtos a um público mais amplo, respeitando as diferentes preferências e necessidades dos consumidores. Ela complementa os empreendimentos de nossas Consultoras, oferecendo mais oportunidades a elas e expandindo o acesso aos nossos produtos de forma conveniente. A adoção crescente de ferramentas digitais pelas Consultoras é um indicativo de como a tecnologia está potencializando o alcance e a eficiência da venda direta em um cenário omnicanal.
A Onda Dois de integração das operações da Natura e da Avon é um dos projetos estruturais mais relevantes na América Latina. Após ter vivido desafios logísticos e sistêmicos em 2023, como foi seu desenvolvimento em 2024 e quais os planos para 2025?
Em 2024, nosso foco principal foi consolidar a Onda Dois nos países em que a combinação de negócios já ocorreu. A integração logística implementada no terceiro trimestre de 2024 começou a gerar eficiências, cujos impactos positivos devem se intensificar ao longo de 2025. Essas eficiências nos permitiram, inclusive, aumentar os investimentos na região e acelerar os ganhos de participação de mercado da Natura no Brasil. Peru, Colômbia e Chile, que também já operam em forma combinada, registraram crescimento positivo. Iniciamos também a implementação gradual e escalonada da Onda Dois no México e na Argentina.
A Onda Dois está intrinsecamente ligada à nossa jornada omnicanal. A integração das operações nos permite oferecer uma experiência mais fluida e integrada para Consultoras e clientes em todos os pontos de contato, combinando a força da Venda por Relações à crescente relevância dos canais digitais e do varejo.
“A inovação transversal sob o objetivo de gerar impacto positivo, aliada à complementaridade entre Natura e Avon, nos permite manter a liderança no setor de cosméticos e cuidados pessoais na América Latina.”
O investimento em inovação também faz parte dos esforços de ganho de market share e no resultado das marcas. Qual foi a estratégia adotada para a Natura e a Avon nessa área em 2024?
A inovação transversal sob o objetivo de gerar impacto positivo, aliada à complementaridade entre Natura e Avon, nos permite manter a liderança no setor de cosméticos e cuidados pessoais na América Latina.
Em 2024, revisamos toda a nossa governança e estrutura de inovação em P&D com a chegada do Centro de Inovação Global da Avon ao nosso complexo em Cajamar, no estado de São Paulo. Nosso objetivo é criar produtos com um olhar local, que realmente atendam às necessidades de nossos clientes.
Na Natura, lançamentos como Ekos Concentrado de Castanha e Ekos Ryos exemplificam como tecnologias inovadoras podem ser combinadas ao olhar regenerativo. O lançamento da linha de Alta Perfumaria Natura e a incursão da marca no segmento de produtos para o cuidado com a casa, com a linha Bothânica, marcaram seu posicionamento no segmento premium. A chegada de Tododia Jambo Rosa e Flor de Caju foi outro marco importante, que evidencia nosso compromisso com a diversidade, equidade e inclusão. Desenvolvemos esses produtos testando-os em mais de 120 tons de pele, para garantir a máxima performance em peles negras e pardas.
Para a Avon, nossa estratégia de inovação em 2024 priorizou o fortalecimento em duas categorias chave, maquiagem e cuidados com a pele, que apresentaram resultados encorajadores, bem como o relançamento estratégico de ícones da marca, como Far Away. Temos planos ambiciosos para acelerar a inovação em 2025 na Avon, aproveitando o alto reconhecimento da marca e buscando um maior engajamento com os consumidores, oferecendo alta qualidade a preços competitivos.
De forma geral, para Natura e Avon, o investimento em inovação também esteve atrelado à jornada omnicanal, com tecnologia e sistemas que apoiam essa estratégia. Acreditamos em extrapolar a experiência da venda direta, caracterizada pela atenção e serviço dedicados ao cliente, para o conjunto da empresa, internalizando esse valioso aprendizado nos mais diversos processos.
Foi também um ano significativo de preparação para as áreas relacionadas a marca e inovação de produto, com o objetivo de criar as bases de novas potências e trazer maior relevância às manifestações de nossa identidade, gerando uma proximidade cultural autêntica. Iniciamos esse movimento no Brasil e estamos estruturando a expansão dessa abordagem para toda América Latina.
Em 2024, durante a 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29), no Azerbaijão, a Natura reforçou a incorporação do conceito de regeneração e anunciou que isso integraria sua nova Visão 2050. Essa visão, construída originalmente há uma década, divulgava a ambição da Natura de ser geradora de impacto econômico, social, ambiental e cultural positivos. Poderia comentar as diferenças e os detalhes dessa revisão?
A principal diferença reside na profundidade e na natureza do impacto almejado. Nossa Visão 2050 proporcionava uma lente de longo prazo para subsidiar decisões e estratégias de negócio, considerando o legado e o impacto potenciais da empresa sobre o mercado, as pessoas e a natureza, sob o prisma da sustentabilidade. Estamos em um momento de revisitar essa perspectiva, na abordagem da regeneração.
Com a Visão 2050 que estamos atualizando, nós nos tornaremos uma empresa regenerativa: todas as nossas operações devem ir além de mitigar e compensar impactos negativos, gerando impacto positivo sistêmico para as pessoas (tanto individual como coletivamente) e para a natureza.
O iP&L, Integrated Profit and Loss, segue sendo a métrica que garantirá o monitoramento dessa meta. Nosso negócio será verdadeiramente regenerativo quando o impacto for positivo em cada um dos capitais – Natural, Social e Humano –, individual e simultaneamente. Como parte da evolução nessa jornada, desenvolvemos projetos como o Plano de Transição Climática, no qual estabelecemos com clareza as estratégias de descarbonização dos nossos negócios, com base na busca de resiliência e justiça climáticas.
Nosso modelo de negócio fornece as oportunidades de que precisamos para adquirir um status regenerativo. A América Latina é um dos territórios de maior biodiversidade do mundo, e a Amazônia tem papel crucial no equilíbrio climático do planeta. Por isso, acreditamos que é fundamental desenvolvermos – nós, outras empresas, governos, todos juntos – comunidades locais para operar a sociobioeconomia, com a transferência de tecnologia e a promoção do desenvolvimento territorial, por meio do acesso à inovação e da cooperação técnica e científica.